Concluiu a graduação em Geologia pela Universidade Federal da Bahia no ano de 1978, ingressando logo após no Curso de Pós-Graduação em Geologia onde obteve seu mestrado na área de concentração em Sedimentologia no ano de 1983. Em 1987 concluiu seu doutorado em Geologia e Geofísica Marinha pela Rosenstiel School of Marine and Atmospheric Sciences da Universidade de Miami, Estados Unidos da América. Atualmente é professor titular em Geologia Costeira e Sedimentar do Departamento de Sedimentologia do Instituto de Geociências da UFBA e pesquisador nivel 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Já atuou em comitês assessores da CAPES e CNPq, foi Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Geologia da UFBA e participou da diretoria de associações profissionais e na organização de congressos e simpósios da SBG e da ABEQUA. Coordena o Grupo de Pesquisa “Laboratório de Estudos Costeiros”. Sua atuação profissional é voltada para as áreas de geologia e geofísica marinha, geologia costeira e meio ambiente, oceanografia, mapeamento, estratigrafia e sedimentologia.
Qual foi sua inspiração para atuar na área de geologia costeira?
Na realidade minha primeira inspiração para ingressar no Curso de Geologia foi uma pequena matéria que li , lá pelo inicio da década de 70, na revista Seleções e que falava do DSDP (Deep Sea Drilling Project) e do seu navio o Glomar Challenger. Quis o destino que alguns anos mais tarde eu fosse fazer meu doutorado na RSMAS-Universidade de Miami, quando tive a chance de visitar o Joides-Resolution o navio de pesquisas que substituiu o Glomar Challenger. Durante a minha graduação eu tive ainda a chance de ser Bolsista de IC junto ao então PPPG (Programa de Pesquisa em Geologia e Geofísica hoje CPGG) orientado pelos profs. Abilio C.S.P. Bittencourt (UFBA) e Louis Martin (IRD), que depois me orientaram também no mestrado. O PPPG tinha um projetão da FINEP intitulado Geologia e Geofísica da Baía de Todos os Santos e Plataforma Continental Adjacente e uma infra-estrutura de pesquisa muito boa que incluia uma embarcação, o Caruana (veja foto abaixo), veiculos e dinheiro para os trabalhos de campo. Tive a chance nesta época de conhecer grande parte da zona costeira brasileira, enquanto fazia minha graduação e o mestrado, além de ter embarcado algumas vezes no Caruana, onde tive a oportunidade de me familiarizar com a coleta de vários tipos de dados relacionados à Geologia Marinha. Acho que todas estas pequenas coisas acabaram me inspirando para atuar na área de Geologia Marinha e Costeira, sem falar do incentivo pessoal da Profa. Yeda de Andrade Ferreira e dos Profs. Abílio C.S.P. Bittencourt e Louis Martin.
Como você vê a evolução da oceanografia no Brasil, mas especialmente na Bahia, de quando você iniciou seus estudos até hoje?
A área dominante da Oceanografia no Brasil é a biológica. Apesar disto as outras áreas da Oceanografia (Química, Física e Geológica) embora reduzidas sempre estiveram em atividade, ainda que em sua maioria embora não estivessem hospedadas na estrutura formal de um curso ou Instituto Oceanográfico. Sempre se fez pesquisa nestas três áreas aqui na UFBA. Inclusive a situação era até melhor em certos aspectos, pois tínhamos uma embarcação (o Caruana) mencionada acima. Além dos grandes centros estabelecidos como a FURG, a USP e a UFPE, existiam vários grupos de pesquisa espalhados pelo Brasil que atuavam de uma maneira ou de outra com aspectos oceanográficos. Infelizmente na segunda metade da década de 1980, a situação piorou muito, resultando inclusive na alienação do Caruana. Mais tarde os programas de incentivo ao doutorado na área de oceanografia promovidos pelo CNPq e Capes, foram fundamentais para reverter este quadro em todo o Brasil, resultando na criação posterior de vários cursos de graduação em Oceanografia no Brasil. Não se pode esquecer que durante todo este tempo a Marinha do Brasil desempenhou (e ainda desempenha) um papel fundamental na aquisição de dados oceanográficos no país. Finalmente acho que a criação do programa Antártico brasileiro, a expansão da exploração do petróleo em águas profundas, a Convenção das Nações Unidas para os Direitos do Mar (UNCLOS) com a necessidade das nações costeiras de delimitarem sua plataforma continental jurídica, e as mudanças climáticas, decorrentes do aumento do CO2 na atmosfera, dentre outros fatores, terminaram sendo os grandes impulsionadores da oceanografia no Brasil. A própria CPRM (Serviço Geológico do Brasil) terminou reativando sua divisão de geologia marinha e agora desenvolve ativamente programas para levantamento de recursos minerais em nossa plataforma continental se aventurando até mesmo na chamada “A Área” (the Area – área do fundo marinho e seu sub-solo localizada além dos limites juridicionais dos países costeiros). As preocupações com a subida do nivel do mar, a erosão costeira, a poluição marinha, as tartarugas, as baleias, os recifes de corais são objeto de reportagens quase diárias em jornais e televisões. Todo este conjunto acabou colocando em evidência a Oceanografia, sendo natural portanto o crescimento na oferta de vagas nas universidades e de emprego para oceanográfos.
O que você considera a sua melhor contribuição científica e por que?
Geologia é uma ciência histórica e interpretativa (hermeneutica). A oceanografia de uma maneira geral não inclui componentes históricos, exceções talvez feitas para a paleo-oceanografia e para a geologia marinha/costeira (alguns colegas gostam de fazer uma distinção entre oceanografia geológica e geologia marinha). Uma aspecto fundamental de uma ciência interpretativa é que a compreensão é fundamentalmente um processo circular. Quando tentamos entender algo o significado de suas partes só pode ser compreendido através de suas relações com o todo. De outro lado a conceituação do todo só pode ser alcançada através da compreensão de suas partes. A geologia é uma ciência narrativa e embora ao longo da minha carreira eu tenha trabalhado com processos, meu objetivo final é construir uma narrativa e esta narrativa está sempre sendo alterada, a medida que as partes modificam o todo e o todo modifica as partes. Qual seria então a minha melhor contribuição. Acho que ainda está por vir, pois os “relatos” que eu já escrevi em grande parte mostraram-se equivocados e precisam ser re-escritos. Existem porém dois trabalhos recentes que eu particularmente gosto: The Coastal Zone fo Brazil (DOMINGUEZ, J. M. L. The Coastal Zone of Brazil. In: Dillenburg, S.P.; Hesp, P. (Eds.). (Org.). Geology and Geomorphology of Holocene Coastal Barrier of Brazil.. Berlin – Heidelberg: Springer Verlag, 2009, v. 107, p. 17-52) e Geologia da Baía de Todos os Santos (DOMINGUEZ, J. M. L. ; BITTENCOURT, A. C. S. P. . Geologia da Baía de Todos os Santos. In: Hatge, V.; Andrade, J.B.. (Org.). Baía de Todos os Santos: aspectos oceanográficos.. Salvador-BA: EDUFBA, 2009, v. , p. 25-66).
O que você sugere aos jovens graduandos em oceanografia/geologia/biologia para buscar o sucesso em sua área de atuação?
Em primeiro lugar é preciso ter em mente que a maioria das coisas que os alunos aprendem hoje na escola, vão ter muito pouca utilidade daqui a dez-vinte anos. Quase tudo que faço hoje não aprendi na graduação nem na pós-graduação. Não existia GPS, não existia internet, não existia notebook, não existia SIG, não existia a quase totalidade dos sensores remotos que dispomos hoje. Portanto a primeira sugestão é ter uma preocupação constante com a atualização profissional (isto inclui aprender inglês – a linguagem universal da ciência).
Em segundo lugar é com muito desanimo que as vezes enfrento minhas turmas de graduação. Os alunos (e também os professores) devem ter em mente que o Curso de Graduação já é uma atividade profissional. Muitos acham que só vão se tornar profissionais depois de receberem o diploma. Eu acho que o aluno deve-se comportar profissionalmente desde que entra na graduação. É neste ambiente que ele vai criar sua rede de referências e contatos profissionais, com os colegas de curso, com os professores e com profissionais externos ao curso.
Em terceiro lugar – e principalmente para os alunos de oceanografia que é um curso multi-interdisciplinar, mas isto tambem vale para os alunos de geologia e biologia que incluem várias sub-disciplinas – é fundamental cada um de nós ter um interesse verdadeiramente multi-interdisciplinar na nossa profissão. É muitas vezes frustrante dar aula para alunos que só se interessam por um aspecto localizado de sua área de atuação profissional. As condições de mercado estão sempre mudando e se os alunos não tiverem a versatilidade suficiente, vão acabar amargando algumas dificuldades. Afinal o mundo é interdisciplinar e interconectado como eu tive oportunidade de constatar depois que coloquei no ar meu blog sobre Geologia Marinha e Costeira (www.geologiamarinha.blogspot.com)
Visto sua experiência como pesquisador e membro do CA do CNPq na área de oceanografia, como você vê a atividade atual e o futuro da pesquisa em oceanografia na academia brasileira e na UFBA?
A área de oceanografia, quando comparada a outras áreas clássicas como física, química, biologia e geologia ainda é muito restrita. O número de pesquisadores principalmente nas áreas de oceanografia física, química e geológica é muito pequeno quando comparado com a biológica. Esta última inclusive é tratada separadamente das outras três áreas nas avaliações da CAPES. Ainda assim a demanda qualificada ainda é muito tímida para este universo já reduzido, por enquanto. Faltam boas propostas. De outro lado devido à falta crônica de meios flutuantes devidamente equipados para a pesquisa oceanográfica, fica dificil fazer uma pesquisa “oceânica”. Chega a ser surreal que alunos da UFBA tenham que se deslocar até o Rio Grande para poderem fazer um embarque. Em grande parte, devido a este fator, a oceanografia brasileira está restrita à zona costeira, principalmente estuários, baias e quando muito avança na plataforma continental. A demanda acentuada por serviços nesta áreas, decorrente das exigências dos orgãos ambientais, ajuda a entender também o porque desta concentração. De qualquer maneiro vivemos em um momento muito favorável às ciências do mar no Brasil. Navios de pesquisa foram adquiridos, foram lançadas várias chamadas e editais na área e a própria criação do Instituto Kirimure é um reflexo disto. Os novos profissionais que estão entrando no mercado, fruto da criação de mais de uma dezena de cursos de graduação em oceanografia e o avanço das atividades humanas nos oceanos mencionadas anteriormente, vão certamente impulsionar o futuro da pesquisa oceanográfica no Brasil. A UFBA está relativamente bem preparada para isto, pois concentra um bom número de bolsistas de produtividade de pesquisa atuantes na área e certamente terá condição de aproveitar as oportunidades que tem surgido e surgirão.
